Marcelo Torca
Cultura e Arte!
Textos

Dia das Bruxas

                                        1.

O dia amanhecera em Matinal, uma cidade pequena, aconchegante,
de hábitos tranqüilos, com várias igrejas de diversas religiões. A harmonia era a
tônica da cidade, onde até mesmo na Prefeitura Municipal, era difícil haver atritos
políticos, somente havia sido constatada uma briga em plenário, onde dois vereadores
divergiam sobre o nome a ser dado há uma determinada rua, cada um queria por o nome da
mãe do outro, prestando uma homenagem. O presidente da sessão, para concluir a
discórdia, sugeriu que fosse dado o nome mediante a fusão dos dois, e em ordem
alfabética, assim a rua passou a ser chamada de Eugênia Maria.
Não haviam bandidos, e a polícia tinha apenas serviços
burocráticos, como licenciamento de habilitação de motoristas, era uma cidade calma
realmente, onde a paz e harmonia era seguido a risca por todos os seus moradores. Na
escola, única do município, o desenvolvimento escolar era mais aprofundado, pois o
contato entre professores e alunos era maior, havia concordância entre educadores e
educandos. Praticamente era a cidade dos sonhos de todo cidadão, podia-se dizer que
havia mágica, pois era quase inacreditável o que se passava.
O time de futebol da cidade, treinava constantemente no campo,
dentro das dependências do Clube Esportivo de Matinal, onde contava com alguns
aparelhos de musculação, além dos jogadores, os associados faziam uso. Na manhã do dia
28 de outubro, não puderam realizar, quando dirigiam-se para o treino, houve um forte
abalo, onde o chão tremeu por quase um minuto, seguiu-se um forte estrondo, ao
observarem se todos estavam bem, notaram um buraco bem no centro do campo, foram
verificar, simplesmente havia cedido o terreno, fazendo um buraco em torno de quatro
metros. Impedidos de jogarem futebol, foram realizar o treino no campo da prefeitura.
O técnico Alfredão, ficou surpreso com o acontecido, logo
pensou ser problemas com a retirada em demasia de água, para servir as torneiras da
cidade, mas somente os especialistas poderiam comprovar algo. Não tendo o que fazer
ali, foi treinar a sua equipe, essa estava participando de um campeonato regional.

                                          2.

No dia 29 de outubro, o dia amanheceu nublado, e em plena
primavera, estava com a temperatura que lembrava do inverno, era um dia aparentemente
triste. A merenda escolar seria sopa de macarrão com frango e alface, um cardápio
apreciado por todos na escola, aliás, era difícil algum aluno não repetir. A escola
possuía duzentos e cinqüenta alunos por período, e no momento da merenda, os
lavatórios contavam com cinqüenta torneiras. As bandejas com os pratos estavam
dispostos em vários pontos para evitar grandes filas.
Os alunos que estudavam no período da manhã, faziam atividades
extra curriculares a tarde, onde por volta das quinze horas, João, Alberto e Ana,
reuniam-se na casa de Laurinda, para brincar um pouco de vídeo game, ficava um
quarteirão da escola, e lá passavam quase uma hora se divertindo. Os jogos de luta
eram os preferidos, onde disputavam quem conseguia fazer o maior número de pontos, e
Ana quase sempre era a campeã.
Por volta das quatro horas, começaram a sentir dor de barriga,
o único banheiro na casa foi pouco, pois não paravam mais de usa-lo, era pura
disenteria. Além desse sintoma, começava a dar sinais de febre alta, a mãe de Laurinda
não teve outra alternativa, senão leva-los ao posto de saúde. Ao entrar no
estabelecimento de saúde, não eram os únicos, mais de setenta crianças estavam ali,
com os mesmo sintomas, era uma epidemia.
Ao questionar o que tinha acontecido, o que era comum: a
merenda escolar. O médico chefe, Dr. Ricardo, não pensou duas vezes, e pediu uma
análise na comida da escola. Estava decretado estado de calamidade pública, pois o
posto não tinha como atender tantos de uma vez só.
Já passavam das vinte horas, e agora eram as crianças do
período vespertino que estavam chegando, e todas com os mesmos sintomas. Por volta das
vinte e uma horas, a análise da merenda chegara, foi constatado um alto nível de
bactérias, restava agora abrir uma sindicância para apurar os procedimentos de
condução da merenda.

                                          3.

Uma noite difícil, mas enfim o dia 30 de outubro chegara, mas
o tempo continuava nublado, e o buraco no campo exalava um odor de enxofre, aos pouco
ia contaminando a cidade pelo cheiro forte, chegava até dar ânsia, já estavam
assustados com o que estava acontecendo, não era algo normal. Além das aulas terem
sido suspensas devido a merenda, agora o problema era o odor exalado.
Já passava do meio-dia, e parecia estar de noite, estava
escuro. Os telefones não funcionavam mais, os pneus dos carros estavam murchos, e não
conseguia mais saber onde começava ou terminava a cidade, não era possível mais sair
da mesma.
Para acalmar a população, assustada, o prefeito pediu aos
padres e pastores orações para superarem um momento de crise, e sem explicação. A
população estava quase toda reunida, com seus quase três mil habitantes, na praça
central, esperando por explicação, ou quem sabe, a salvação.

                                          4.

Passados alguns segundos da meia-noite, já no dia 31 de
outubro, surge um clarão, invertendo a noite pelo dia, o cheiro de enxofre fica mais
forte, e um ser alado aparece, acima de todos que estavam na praça. Aos poucos foi
descendo no meio da multidão, alguns enxergavam um homem, outros uma mulher, ainda
tinha aqueles que enxergavam sendo uma criança. Não havia rosto definido, até a forma
não parecia ser tão definida.
Passeia no meio da multidão, aponta um cidadão, e esse cai,
aponta para o outro, acontece a mesma coisa, e por catorze vezes seguida. Mas o décimo
quinto não cai, e faz afastar o ser alado, desaparecendo. A pessoa que havia
conseguido afastar era Rosa. Ao verificarem as pessoas que caíram, constataram estarem
mortas, mas uma havia escapado.
Novamente aparece o ser alado, começa a apontar para as
pessoas, essas caem mortas novamente. Rosa resolve ficar a frente do ser alado, e
novamente esse some. Não foi preciso muito tempo para entender que tinha uma arma para
se defender, e talvez a única forma. Essa pessoa era uma prostituta, onde atendia
vários clientes, inclusive de cidades vizinhas. No momento estava grávida. As
perguntas eram muitas, mas era impossível achar alguma resposta, com um episódio em
andamento.
Novamente o ser alado aparece, mas dessa vez comunica-se
mentalmente com cada pessoa:
_Sou Taelone, devastador. Aquele que ameaçar meu filho, será
castigado! Voltarei daqui um ano, para passar o meu reino ao meu herdeiro! Que ninguém
ouse a toca-lo.
Pronunciou essas palavras e logo desapareceu.

Marcelo Torca
Enviado por Marcelo Torca em 30/10/2007
Alterado em 25/10/2021
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